Sempre leio
por aí que concurseiro é um sujeito solitário, mas só entende bem essa solidão
quem, de fato, é absorvida por ela.
Concurso não
é uma decisão tão simples como escolher um milk-shake de chocolate, ao invés do
de morango; Vem de um desejo interno de conquistar algo que é sólido, vem da
vontade de querer conquistar não só a estabilidade financeira, mas da
satisfação pessoal. A gente projeta toda nossa vida a partir dessa realização e
por mais sozinhos que possamos parecer, deixamos em nossas costas, nossa mente
e em um cantinho do nosso coração, as pessoas que nos motivam a nunca desistir.
Olhamos pra nossas dificuldades, para as delas e na nossa balança interna se
equilibra os nossos sonhos com os sonhos daqueles que amamos.
Com isso, nossas
projeções e empenhos tornam-se bem maiores; maior até do que achamos que somos
capazes de aguentar. Mas a gente consegue, porque concurseiro descobre uma
força interior que é inabalável, mesmo que a gente tenha alguns tropeços no
caminho, que não passe em muitas provas. Internamente, sabemos quando estamos
preparados e quando merecemos, enfim, a nossa chance. É por isso que essa “classe”
nunca desiste e tenta, tenta, tenta... Até conseguir.
Mas esse
caminho, esse percurso... Nossa! É cansativo, é estressante e eu diria que é um
divisor de águas em nossas vidas; pelo menos tem sido na minha.
Tem sido um
período de recolhimento – forçado, mas consciente. Eu não fui influenciada por
ninguém, a decisão foi toda e exclusiva minha. Não reclamo da exclusão da vida
social, de nada do tipo. Digo que foi forçado apenas porque não é um desejo
espontâneo, mas necessário para um bom desempenho nos estudos e,
consequentemente, nas provas.
Mas, como
TUDO na vida tem seu lado positivo, tem sido uma experiência bacana observar o
comportamento das pessoas quando você resolve mergulhar nesse mundo de concurso
público.
Pra começar,
todo mundo lhe dá apoio – em palavras. Jorram palavras de que será bem
sucedido, de que você é merecedor somente de coisas boas e logo conquistará sua
vaga. Daí, elas começam a demonstrar “interesse”, sempre perguntando quando
será a próxima prova, se esta preparada (como preparação viesse da noite para o
dia), se tem estudado bastante (...) e, alguns, começam a mandar mensagens
motivacionais etc. A princípio, tudo isso parece acolhedor, mas, bem no fundo,
eu não conheci ninguém que saiba lidar com esse processo. E, antes que fiquem
chateados comigo, EU ENTENDO VOCÊS! Assim como MUITA coisa na vida a gente só
entende quem passa, só entende nossos medos, anseios, dúvidas e solidão, quem
faz parte disso diretamente, ou seja, quem estuda para concurso público.
Quem precisa
ficar horas por dia isolado no quarto vidrado nos livros, no computador
assistindo aulas on line ou baixando provas, nas bibliotecas pesquisando
livros, nas salas de cursinho e... Distante das festas, das baladas, dos
barzinhos, dos shows, da vida que acontece lá fora.
E, aos
poucos, as pessoas ali de cima que antes perguntavam algo, continuam fazendo
apenas isso, perguntando. E à medida que a prova vai se aproximando e elas
continuam falando as mesmas coisas vão criando um quase pânico, um medo de
frustrar as expectativas alheias. Aí, na verdade, depois de uma longa e
complexa reflexão, você se dá conta de que as expectativas que vai frustrar
são, na realidade, as suas. Que o que dá medo é de perder a credibilidade
diante dessas pessoas que tanto perguntam; porque elas esperam que você passe.
Simples assim. Mas você sabe que não é tão natural assim, que o que você
precisa administrar, além do conhecimento, é muito maior. E se depois de tanto
esforço não consegue, dá aquela sensação de mergulho profundo, de cabeça, em
rio raso.
E o que vem
depois se resume a um: “É assim mesmo, continua estudando que você passa” ou “Não
fica triste, não vai adiantar”.
Cara... Toda
sua dor e tempo dedicado a algo que não veio se resume a apenas isso? L
Eu sei que é difícil falar as coisas certas nessas horas, que confortar não é habilidade de quase ninguém. Mas aí é que esta o “ponto” principal, que aprendemos “na marra” nesse período de devoção aos livros; Não precisa falar nada. A gente fica cansado demais disso, afinal, só o que vemos/lemos, são isso.
Eu sei que é difícil falar as coisas certas nessas horas, que confortar não é habilidade de quase ninguém. Mas aí é que esta o “ponto” principal, que aprendemos “na marra” nesse período de devoção aos livros; Não precisa falar nada. A gente fica cansado demais disso, afinal, só o que vemos/lemos, são isso.
O que a gente (eu) precisa, é justamente que nos desliguem um pouco. Nosso mundo passa a girar em torno disso; a nossa eventual companhia será nossa válvula de escape. (Pausa no texto para explicar e evitar problemas: a intenção NÃO é usar ninguém. Mas assim como todo mundo precisa de um momento pra relaxar, tentamos ter o nosso. E se você foi contemplado a dividir esse precioso (pouco) tempo, faça valer a pena!)
Eu tenho uma
amiga que às vezes me desliga do mundo. Ela quase não liga, porque sabe que vai
interromper meus estudos. Mas quando eu pego meu celular para ver a hora ou
programar meu relógio, eu vejo um SMS com alguma lembrança simples; “Oi, boa
tarde! Saudades!” E gente... Vocês não fazem ideia do quanto isso faz a
diferença! Alguém preocupado com você somente, não se você esta fora de conexão
comendo algum livro. Outro dia ela insistiu na ligação e atendi, achando que
poderia ser algo sério. Foi quando ela disse: “Estou indo aí. Eu sei que você
esta estudando, mas também sei que você precisa de alguma coisa... Mas não sei
o que. Então eu posso ir só pra te dar um abraço e um bombom?”. Eu não a deixei
vir, porque eu havia assinado um site para assistir umas aulas on line e bem
naquele dia eu teria a aula que eu mais precisava assistir (o universo
conspirando contra nossa socialização), mas sempre que eu lembrar disso, eu SEMPRE vou chorar.
Isso é uma
falta constante e eu não culpo as pessoas por isso. Entender a necessidade da
outra pessoa sem que ela fale nada é algo difícil mesmo. Principalmente se você
não sabe interpretar as entrelinhas... Tem que conhecer muito e estar muito
aberto para só receber os sinais e interpreta-los da forma correta. Ou também
mergulhar no mesmo mundo, porque aí você vai descobrir.
Eu gostaria
pra caramba de fazer um “manual” pra você, que não é concurseiro, lidar da
melhor forma com alguém que é. Mas eu não tenho como fazer isso... Tenho medo
de acabar postando informações que podem soar pessoais demais...
Mas, tenho
algumas dicas;
Em hipótese alguma
faça alguma crítica, do tipo “sai desse quarto, você só estuda!”. Não lide de
maneira superficial com algo que é para nosso futuro, que é nosso sonho. Todo
mundo tem o direito de não concordar, porque nem todo mundo projeta a mesma
coisa na vida... Mas isso não dá a ninguém o direito de desrespeitar o outro;
Se você gosta
muito de uma pessoa que esta prestes a fazer uma prova, seja ela amigo(a),
namorada(o),esposa(a) etc., e puder preserva-la de suas sensacionais baladas no
Barra Music, é uma GRANDE demonstração de carinho... Ela(e) esta presa e, ainda
que seja uma escolha, não significa que ela(e) fique 100% feliz tendo que abrir
mão de tudo por um tempo indeterminado. Entendam: Ninguém precisa se isolar por
ninguém, não é isso! Mas postagens e comentários em excesso causa insegurança a
quem não pode acompanhar e, quando não, cria aquelas expectativa de querer
participar, aquele medo de estar mesmo se isolando demais. E o que gera dúvida,
gera dor.
Releve o tom de voz às vezes áspero e cansado, a aparência de zumbi, a falta de entusiasmo... Estudar várias horas por dia, meses, ano, como eu disse, é desgastante, cansativo e estressa muito. Em 90% vai depender de você, como eu também já disse, tira-la desse tédio, mas você só vai conseguir se souber ter bom humor e muita, muita paciência. Leia paciência 30 vezes para ter a dimensão da coisa!
Releve o tom de voz às vezes áspero e cansado, a aparência de zumbi, a falta de entusiasmo... Estudar várias horas por dia, meses, ano, como eu disse, é desgastante, cansativo e estressa muito. Em 90% vai depender de você, como eu também já disse, tira-la desse tédio, mas você só vai conseguir se souber ter bom humor e muita, muita paciência. Leia paciência 30 vezes para ter a dimensão da coisa!
Ou seja... Já
ficou mais do que claro de que para lidar com um concurseiro, só gostando
muito. Não é tarefa para qualquer um, não! São raros os amigos, namorados e até
parentes que suportam tudo até o “fim”, sem se afastar, terminar, brigar,
cobrar, reclamar etc.. São muito raros!
Mas tem uma
coisa; do mesmo modo que a gente quer respeito e compreensão, a gente entende
perfeitamente esses que não são raros (a grande massa) e que abandonam o barco e
vão embora. E deixam a comemoração só pra gente. É, vida solitária! ;-)