sábado, 2 de maio de 2009

Desapego.

Estava tentando arrumar minhas gavetas quando, mais uma vez, me distrai com pensamentos... foi só por segundos, mas eu fiz uma viagem maravilhosa para dentro de mim, das minhas lembranças, tristezas e alegrias. Lembrei que tem tudo a ver com um livro que eu li recentemente, recomendação da minha amiga - poeta Rafaela; Magnólia, o livro, fala exatamente das reflexões diante de uma gaveta e nos remete a uma busca interior interessante e desafiante.

Junto dele, eu lembrei de um texto igualmente lindo que eu encontrei por acaso na internet, e na qual eu desconheço o autor ( infelizmente! ) Chama - se desapego - e essa palavra tem tomado uma proporção gigantesca em diversos aspectos da minha vida ...

Eu precisava limpar um pouco a sujeira do meu armário, tirar os papeis desnecessários, me desfazer de cadernos que eu não utilizo mais... encontrei coisas que eu nem lembrava que tinha, desde anotações a matérias de escola, revistas com assuntos que não me interessam mais... e eu fui separando ( ou tentando!) para me desfazer de tudo que eu não preciso. Mas eu já precisei. É estranho pensar que eu olho para essas coisas com indferença hoje, e que no passado tiveram tanta importância. É como se eu estivesse me desfazendo de sentimentos e emoções que foram os degraus para que eu construisse minha personalidade hoje. Cada anotação que eu encontrava eu recordava do momento que eu tinha feito, cada revista que eu (re) lia, me fazia lembrar dos motivos que me levaram a comprá - la... essa nostalgia é tão gostosa, trás uma saudade indescritível! E o melhor: conforta! Eu lembro que em muitos momentos eu estava triste, mas passou... todos os problemas no passado soam tão desinteressantes agora... e daqui a 5 anos, quando eu estiver novamente limpando meus armários, terei a mesma sensação. ( Que assim seja! )

E por que é tão difícil jogar fora as lembraças concretas se as temos aqui, registradas em nossas memórias, nossos corações ? Sem querer, acabamos fazendo isso com nossas vidas. Vamos acumulando um monte de informações, mágoas, medos, angustias e outros sentimentos desnecessários em nossos armários internos e mesmo quando estão amontoados de poeiras e sem espaço para registrar novas experiências, não conseguimos abandoná - los.

A dor é tão presente, queremos tanto que ela permaneça ao nosso lado que nem sentimos mais. Só quando remexemos é que vamos descobrir que ela ainda sangra, porque não permitimos que ela cicatrizasse. É mais fácil acomodá - la num canto escuro e seguro do que encará - la de sempre. É melhor afogar as mágoas em bebidas do que coloca- las para fora em forma de lágrimas e nos afogar em nosso próprio desespero. É mais fácil fingir que somos felizes do que assumir - mos tudo que faz doer. A vida é um palco e nós, eternos atores com um roteiro perdido em mãos.

A grande verdade é que todos nos temos vocação para tristeza; é mais fácil produzir com ela, grandes poesias e músicas foram construidas assim . É mais fácil assumir nossas fraquezas do que entrar na loucura do mundo de garras e dentes para mostrar nosso valor e conquistar um lugar ao sol. É mais fácil fazer as pessoas acreditarem que somos fracos para que elas possam sempre nos estender a mão e nos proteger.

Até que chega o grande momento; a gente se sente mal com tanta poeira, perdemos espaço e temos ainda muita coisa para guardar. É preciso abrir uma brecha. E aí vemos que fomos preenchendo espaço com coisas que, definitamente não mereciam valor. Mas a gente jura que tem importância.

São amores que não nos correspondem, beijos que não gostamos, amor que não dá prazer, amizades que não são verdadeiras, baladas que não valem a pena, livros desinteressantes, lembranças que poderiam ser queimadas.

Ter coragem para nos libertar disso é fundamental; encarar cada fanstamas da alma é um desafio gigante, uma questão de liberdade sem igual. É preciso materializar cada lixo, olhá - lo no fundo dos olhos e se despedir, jogá - lo nos abismo para que nunca mais volte a nos perturbar. Dar Tchau para o passado e sim para o futuro, para a vida.

Eu acho que tenho dado grandes passos em busca disso. Me sinto muito mais leve, mais madura e a mudança é visível para as pessoas que verdadeiramente me conhecem. Algumas já me disseram: " Vc está mais adulta, mais firme! " E eu fiquei feliz por isso porque a imagem infantil que mantinha era uma fuga, por que eu tinha medo de crescer, de encarar a mundo de frente, de fazer parte dele. Criei meu mundinho particular e ninguém podia ousar entrar. Só que esse mundo foi ficando pequeno, eu queria dividi - lo com as pessoas que eu amo. Mas como, não tinha mais espaço ...

Bom, vou divídi - lo assim: na gaveta um, a mais alta, fica minha base, meu alicerce: minha família amada, os primeiros amores eternos que eu conquistei. Na gaveta dois, os meus amigos - irmãos e meu eterno agradecimento pela força, carinho, risadas, momentos compartilhados e pra sempre recordados. Na terceira gaveta, meus colegas do dia - a - dia que me fazem rir e me levam para as melhores noites, becos e buracos de todos os cantos. Na quarta gaveta, o amor que eu ainda espero encontrar. Na quinta, as melhores lembranças, as mais gostosas fantasias, os mais bonitos planos, as mais lindas flores e as melhores poesias.


Pronto, está tudo arrumado agora. Pode entrar quem quiser. [ Só não vale bagunçar tudo de novo, por favor! ]




Escrito em 26.04.2009 - 04:30 da manhã.

Um tapa de boas vindas !

A Vida é mesmo engraçada, né ? A gente pensa que conhece tudo, que já passamos por diversas experiências, aprendemos e amadurecemos ... enfrentamos tempestades, choramos, sofremos e quando achamos que finalmente vamos encostar, aproveitar o sol e descansar na areia, lá vem uma outra onda e leva tudo... Tudo mesmo. E o que sobra? Um monte de areia por todos os lados - incomodando, machucando mais pouco. Sabe quando vamos a praia e forma um bolo de areia dentro do biquini que logo encontra partes que não deveria e incomoda pra caramba ? Pois é, a sensação é parecida mas com uma desvantagem: lavar e dá uma " sacudidinha " não é o suficiente para tirar toda a sujeira e limpar todo o incomodo...

Hoje durante todo o percurso Trabalho - casa uma pergunta não saia do meu pensamento: " O que fazer ? Deus, por favor, o que fazer ? " Nada parece fazer sentindo, a vida está uma bagunça e todos os planos frustrados. Dói pensar desse jeito, dói assistir essa novela mais uma vez e em determinado momento descobrir que você é a atriz principal. Esse discurso de que " nada está dando certo... " esta tão manjado que as vezes eu sinto vergonha de expor. É tão mais fácil manipular a dor , fingindo que nada está acontecendo ... e lá se vão baladas, bebidas, uma alegria tão forçada que desmancha antes da noite terminar, junto com a maquiagem.

Eu sei que tudo passa e que no fim, tudo dar certo. E precisa dá! Eu tenho paciência para aguardar todos os próprositos reservados a mim - e eu sei e creio que existam, sim! Só que não é tão fácil aguardar ... acho que quem só espera está, na verdade, buscando uma válvula de escape. Lógico que é mais cômodo acreditar que Deus reservou felicidades e benções e que receberemos isso um dia. Um dia, sabe lá quando. Não duvido da palavra Dele, só que eu vivo num mundo tão real e que todos os dias me magoa um pouco... não dá para fingir que a espera é como deitar em uma nuvem e sentir a brisa suave. E quem dera que fosse assim!

Nessas horas dá uma vontade danada de voltar para o útero da minha mãe... imagina, morar em um local quietinho, quentinho, alheio a tudo que acontece ao redor ... recebendo o alimento essêncial para viver e se desenvolver .. e só. Depois a gente nasce, essa é a primeira injustiça que acontece. Sem nem nos perguntar, alguém nos tira do nosso aconchego e ainda dá um tapa em nossas bundas - o que, traduzindo, significa: " ah, otário! se ferra aqui! " e sem piedade alguma, nos faz chorar! Pior : ainda tem uns palhaços que, de deboche ( só pode ser!) ainda diz: " que bonitinho!" Passado o trauma inicial, as coisas melhoram e muito! Vamos para nosso bercinho, somos paparicados o tempo todo, andamos no colo, todo mundo quer proteger e promete amar ... e a gente cresce achando que o mundo é perfeito, que nossa vida sempre será perfeita, que teremos sempre o leite da mamãe, as mãos firmes do papai, o colo e a comida gostosa da vovó ... A gente vai para a escolinha e se realiza... meu Deus, o que são todas aquelas crianças para brincar ? E as massinhas, os lanches, as músicas, a carinha pintada de indío... a gente pode correr, pular, se machucar ... tudo é festa e todo mundo acha lindo. Ae crescemos mais um pouco e as preocupações começam: " Poxa, tirei nota baixa em matemática, mamãe vai brigar " ou " acho que comi muito bolo de chocolate, vou ter dor de barriga ... " e alguém nos pede ( ou obriga mesmo!) a estudar e a gente recupera a nota ruim no boletim. Quando a dor de barriga um remédio resolve. Pronto, as coisas são tão fáceis !

Começa a idade de se apaixonar... " huumm, o menino de olhos verdes está olhando para mim! " Sorrisinhos daqui, mãozinhas dadas ali ... rostinho vermelho, um beijinho tímido no rosto... e a gente jura que vai casar e que ele será o principe que vai nos libertar dos castigos dos pais e nos levar para o castelo de sonhos, igualzinho do filme A Bela e a Fera.

A gente cresce mais um pouco e, no caso das meninas, uma coisa vermelha começa a sair todos os meses, sem que a gente possa controlar. É a chegada da quase - maturidade forçada. Se você brinca de boneca, zombam de você ; " Você não é mais criança! " Mas se você tenta fazer uma boneca ... ihhh, o bicho pega! Quem entende ? Acho que é a partir daí que a compreensão do mundo começa a ficar complicada ...

E depois de tanta ilusão a gente descobre que o manto que nos protegia na infância morreu com ela, que a mamãe não tem mais leite e que os braços do papai estão cansados e distantes... que o menininho de olhos verdes tornou - se o tarado que na primeira oportunidade vai leva -la para sabe-lá -onde e fazer todo- mundo- sabe - o - quê. E depois ? " Valeu, Foi bom, adeus! " E salve, salve chiclete com banana!

E quando você sentar para chorar alguém vai olhar e com um sorriso sarcástico, ainda que escondido no fundo da alma, vai dizer: " calma, a vida é mesmo assim. " E assim, exatamente assim, a gente aprende que não há nada que a gente possa fazer a não ser ... aprender na marra que nada pode ser feito e ponto final. Vamos viver que nem camelos no deserto que trabalham e não tem direito a descanso e não encontram água para se satisfazer e uma sombra para repousar. Mas a vida é mesmo assim. Quem foi disse que seria diferente ? Aquele que bateu na nossa bunda ?


Escrito em 22.04.2009