terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pais nada brilhantes, professores nem um pouco fascinantes.

Meu irmão quando criança tinha um sério problema com os livros. Não
havia nenhum interesse por parte dele em ler os livrinhos que eram
obrigatórios na escola, embora as vezes ele lesse revistinhas em
quadrinhos. Além de não desenvolver o hábito de leitura, havia um outro
problema um pouco mais sério, porém imperceptível para professores e os
nossos pais; ele não conseguia ler direito. Em voz alta, por exemplo,
ninguém conseguia escutá -lo. Era notável o esforço dele para se fazer
entender, mas por algum motivo ele não conseguia.

Isso, é claro, gerava constrangimento para ele que foi adquirindo uma
espécie de trauma e passou a se recusar a ler em voz alta, diante da
turma. A professora, ao invés de investigar as causas da recusa,
simplesmente tentava obrigá - lo, sem sucesso. A dificuldade foi
mostrando sinais gritantes, mais ninguém se dava conta: ele repetiu a
pré - escola, tinha um desempenho fraco em redação e não lia nenhum dos
livros propostos pelos profesores. De fato, nunca o vi lendo.

Diante disso, certa vez meu pai comentou que era preguiça, desleixo
entre outras coisas e eu fiz questão de corrigi - lo. Pode ter ocorrido
tudo isso assim, mas por parte do meu pai, mãe e professores. Na fase da
escola, os 3 desepenham papeis definitivo no interesse e no
desenvolvimento da criança.

Perceber que algo estava errado com a leitura dele e não fazer esforço
algum para corrigir isso, foi omissão. O resultado é que existem milhões
de crianças com a mesma dificuldade e que vão crescer e tornar -se
adultos completamente avessos ao hábito da leitura.

No entanto, outra situação me deixou mais reflexiva. Existem várias
crianças e adolescentes no mundo com alguma dificuldade não só em
leitura, mas no aprendizado de forma geral. A maneira como os pais e/ou
professores lidam com isso é sempre muito superficial; encaram o
problema da mesma forma que eu citei a acima, como se fosse desleixo,
preguiça ou falta de consideração ao dinheiro investido no futuro delas.
Alguns pais tomam atitudes diferentes: colocam os filhos em professores
particulares, pagam cursinhos extras, apelam para o castigo e alguns,
mais radicais, obrigam o filho a repetir a série para força - lo a ter
consciência.

Andei pesquisando um pouco sobre esse fato e conclui que eu tenho
primos, amigos, enfim, pessoas próximas que passam por esse dilema. E
cheguei a conclusão que nada feito para ajudá - los, de fato, ajuda em
alguma coisa.


Mariana* era uma menina linda, alegre, querida por todo mundo. Sempre
foi esperta e desenvolveu a fala cedo. Em qualquer festa de família,
tornava - se o centro das atenções. A medida que o tempo foi passando e
ela crescendo, as coisas mudaram. Ela já era obrigada a dividir atenção
com o irmãzinho mais novo e apesar da pouquissima idade, via -se na
responsabilidade de cuidar dele também. Estudava em uma escola
completamente rígida e tinha dificuldade em se adaptar tanto as regras
quanto em algumas disciplinas. Sentia -se desestimuldada a cada nota
ruim e a cada recuperação. Começou a ficar agressiva e chorava para não
ir a escola. Quando tinha provas, passava mal.

Os pais a colocaram em uma explicadora e ela sentia sobrecarregada e
forçada a dar resultado positivo. Questionava a própria capacidade e sua
autoestima foi ficando cada vez pior. Sua concentração e desempenho,
idem. Para os colegas mais avançados, ela era burra. Para os pais, não
gostava de estudar. Para a explicadora, preguiçosa. Para ela mesmo,
incapaz.

O que ninguém notou foi que as mudanças em relação ao desenvolvimento
dela começaram justamente quando as coisas na casa dela começaram a
mudar. Mariana era mimada e sintia -se protegida, porém se viu na
obrigação de proteger outra criança tão frágil quanto ela. Sentia medo
da resposnsabilidade e ainda não havia adquirido maturidade suficiente
para lidar com o medo. Nem sequer sabia porque era necessário
desenvolver a mente tão rápido se seu corpinho ainda era tão infantil.
DE repente, viu - se sozinha e confusa. E descobriu que aquele manto que
que a confortava no útero da mãe e que a protegia na infância, na verdade,
nunca existiu.


Passou a infância toda e a pré - adolescência dando sinais alarmantes de
que ela não queria medidas drásticas e nem professores particulares;
bastava uma conversa simples e direta, olho no olho, com os pais. Uma
palavra de incentivo, um carinho, uma tentativa de ajudá - la a vencer
as dificuldades escolares, porque quem tem problemas na escola passa uma
vida toda tentando se livrar deles.

Penso que se os pais dedicassem um tempo para sentar e estudar com os
filhos, tudo seria diferente. Para Mariana* eu tenho certeza que teria
sido. As vezes só o que elas querem e precisam é um pouco de atenção,
mas os pais sempre ocupados pouco prestam atenção a esses sinais. E a
escola nem sempre assume o papel; Tudo passa despercebido para
professores e coordenadores,o que me da mais certeza ainda de que a
escola, como responsavél em auxliar no desenvolvimento e na formação de
personalidade da criança, deve tratar cada um de forma individual,
analisando, respeitando e tentando moldar as crianças de acordo com o
tempo e a individialidade de cada uma delas e, principalmente, interagindo com
os pais. Certamente é um trabalho longo, cansativo e que requer uma
enorme dedicação, mas o que adianta formar um aluno completamente
despreparado e jogá - lo na vida em busca de algo muito mais difícil e
compepetivo, que é a busca por emprego e sobrevivência ?