terça-feira, 9 de outubro de 2012

Mudaram as estações...

Que nostalgia é essa que vem me tirando dos eixos e mudando meu foco?
Nostalgia bipolar; ora me deixa feliz, ora parece querer colocar 24 anos de peso em minhas costas e me obrigar a caminhar, mesmo sentindo dor. 

Lembranças tão firmes que eu fecho os olhos e me remeto tão imediatamente àquele espaço, que parece que eu fui plantada ali. Eu vejo aquele número enorme de pessoas com blusas brancas com mangas azuis e shorts azuis correndo, andando, todos falando ao mesmo tempo. E eu ouço as vozes, sinto o cheiro dessas pessoas, revivo diálogos e sinto raiva daquele uniforme horrível e do quanto eu parecia ser bem mais nova com ele. 

Eu sinto minhas pernas subindo as escadas, eu sento naquela cadeira que acoplava uma meda e vejo meus sonhos, porque era ali que eu desenhava eles... Então eu penso que eles ficaram presos ali, que eu esqueci de guarda-los no coração quando apaguei para que nenhum professor achasse que fosse cola. Eu passei a borracha confiando na minha memória. E hoje, só tenho ela. 

Veja isso, desde tão nova tentando ser correta... E sempre falhando nas tentativas. 

Eu levanto a cabeça um pouco, e vejo o sorriso sarcástico da Adriana. E agora eu penso: Por que durante todos esse anos eu esqueci de você e do modo como você sorria pra mim? Era sempre nas aulas de português; a professora tinha birra comigo, e era recíproco. Não sei bem quando começou, sei que nossa relação dava choque, mas, internamente, divertia a mim, a ela, e a todo mundo. E fazia com que a Adriana se virasse toda vez que ela entrasse e soltasse aquele risinho frouxo, esperando algum atrito, alguma ironia, alguma coisa que a tirasse do tédio. Eu já carregava a responsabilidade de ser o Teatro de todos. E nossa, eu desempenhava tão bem esse papel que acreditava que era apaixonada por ele. 

Quando foi que eu deixei de ser o centro das atenções e não percebi? Quando foi que eu passei a odiar todo mundo olhando pra mim? De repente, quando eu perdi aquele jeito da Adriana. Quem foi que disse que agora que eu recordei, eu quero substituir? 

Quando ela se virou pra frente, eu olhei pro lado e o Diego estava lá, olhando pra mim, como sempre. Nós já nos encarávamos havia tantos anos... Cerca de 5, mais ou menos. Mas, agora, nessa 6ª série, a melhor da minha vida, ele me olhava como se não me reconhecesse. Eu havia perdido aquele ar de menina centrada, que só queria ler, ler, ler e que fazia as redações de todas as meninas que sentavam no fundão da sala. 

Eu já chegava atrasada, pedia para ir ao banheiro para "voar" pelos corredores e sim, eu brigava com a professora. E quando o Diego dava aquele olhar de reprovação para mim, eu ficava com vergonha. Era o único que me deixava com vergonha. Eu queria ser amiga dele pra sempre, mas eu não podia ser a mesma para sempre, mesmo que ele ainda fosse... Mas eu não sabia dizer isso e deixava ele pensar que já não era mais importante pra mim.

Eu procurava, então, o Herivelt ao meu lado  para que ele me contasse as suas histórias sem noção ou de terror, pra eu esquecer que alguém me fuzilava ali. E o Herivelt fazia meu coração bater mais forte, foi a primeira relação de amor e ódio que eu tive. É, na ordem inversa. Quando eu o vi pela primeira vez, 3 anos antes, eu o odiei. Com o tempo e suas histórias bizarras (que no início eu fazia questão de contrariar todas ), fui me rendendo. Era quem eu conversa por horas. E um dos que eu mais sinto falta hoje. 


O Ian, Cristiano, A Michele, as gêmeas Simone e Simoni , A Daiana, o  Michel eram meus fiéis companheiros de aventura, dentro e fora da sala. Conversas dentro dela, fora, no recreio, brincadeiras, músicas e minha casa depois das aulas. O Ian, meu melhor amigo!  Vocês são lindos hoje em dia! São tão parecidos com o que eram quando éramos crianças... Tudo bem que hoje só Tenho contato com Ian, Cristiano e, muito esporadicamente, com a Michele, mas conheço o rumo das vidas do Michel e Daiana, e sei que estão bem. As gêmeas, que presente seria te-las de volta na minha vida... Mas se mudaram pra Curitiba e a falta de meios de comunicação da época não nos permitiu contato. Com um pouco de fé, esse humilde blog chegará até elas... 

A verdade é que nessa época eu era uma das garotas mais populares da escola inteira- se não a única. Estudava lá desde as fraldas e até os diretores buzinavam quando me viam na rua. O inspetor abria minha garrafinha de refrigerante e a coordenadora me paparicava como seu eu fosse filha dela. Eram horas de afagos nos cabelos... E aquela escola era minha fortaleza, nada nem ninguém ia me fazer mal ali. 
E todos que encontravam comigo pelos corredores, me beijavam e abraçavam. Eu entrava nas salas das séries mais avançadas que a minha e dominava tudo. Eu era o xodozinho de todo mundo. Tinha "mãe", dezenas de "irmãs", "primas". 

E eu era a pessoa mais feliz do mundo ali, porque era só ali que tudo era perfeito na minha vida. 

E foi no dia 30/09/2012, 09 dias atras, que tudo voltou a tona. Estava na casa da minha amiga e comadre, Renata, que eu conheci nessa escola, quando ela estava tentando me mostrar um novo caminho para ir embora. Ela então soltou uma palavra mágica: "Lembra onde mora a Suellen?"

Nossa. Parou, mundo. Suspiro. Arrepio. Sorriso. Saudades. "Eu não lembro onde ela mora", eu respondi. Mas eu lembro perfeitamente do sorriso mais lindo que eu já vi em alguém. E do modo como ela me olhava por cima, tão maior que eu. E do olhar que sorria junto. E do abraço de irmã. E aí que eu não paro de recordar isso tudo e o que eu mais queria agora era recebe-lo de novo. Bom, eu posso acha-la ainda, porque a Renata sabe onde ela mora... Mas será que ela lembra de mim? Será que eu marquei a vida dela assim também?

Vou descobrir, qualquer dia desse... Mas, caso contrário, esse comentário que minha amiga fez e todas as lembranças que a Suellen me trouxe, serviram para me mostrar o quanto eu era feliz, o quanto me sentia amada e protegida. E eu quero sentir isso de novo.

Se eu não puder ter essas pessoas de volta me dando tudo isso, eu preciso conquistar algumas que assumam esse papel com tanta naturalidade e disposição que eles faziam. Sem obrigações, cobranças, truques, trocas e interesses. 


E agora eu preciso mais do que nunca, porque eu regressei... Voltei a ser a menina centrada que só quer ler, ler, ler e que ainda faz redações pra meninas que tem preguiça. Só que agora a vida não tem mais recreio, nem sabor de lanche, nem escola, nem... 

Mas que eu ainda consiga torna-la doce e digna de recorda-la daqui alguns anos com a mesma emoção que a minha infância me traz.

E obrigada, Suellen. 
Espero que esteja sempre sorrindo. 





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